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Entrevista Rômulo Estrela

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Na pele do bom vivant Marcos Almeida Prado de "Bom Sucesso", Romulo Estrela conquista mais um protagonista em sua carreira

Por Claudia Dias

Depois do rei Afonso de “Deus Salve o Rei”, Rômulo Estrela está de volta ao horário das sete. E novamente com um protagonista. Na pele do bom vivant e sedutor Marcos Almeida Prado, em Bom Sucesso, ele vem encantando a mulherada. Amante dos livros como o personagem, ele vê na trama uma forma de incentivar a leitura. Ele, por sua vez, faz a sua parte em casa, com o filho Theo, de dois anos e meio. Falando em família, pais e filhos, Rômulo confessa que tem pensado mais na finitude – principalmente de seus pais, que moram em São Luis, terra natal do ator. Mas, ao contrário do que muita gente imagina, ele acredita que a novela traz uma mensagem de vida e esperança, ao contar a história de Alberto Prado Monteiro, que está com os dias contados e decide viver a vida intensamente. Confira a entrevista:

JT: Em sua trama, Bom Sucesso faz uma reflexão sobre a morte. Como é a sua relação com o tema?
RE: Hoje eu lido de uma maneira mais tranquila com a morte. Eu não tenho medo, até penso nisso, mas não é uma coisa que fica me rodando. Eu entendo que é uma coisa que existe, mas enquanto ela não chega faço as coisas que eu tenho que fazer. Na verdade, já venho trabalhando isso há alguns anos: o entendimento de que algumas coisas tem um fim. Isso se deu muito pelas relações que eu tive com meus pais. Eu moro há mais de 15 anos fora de São Luís, e eu vejo meus pais sempre no final do ano. Quem ainda tem pai vivo sabe, que bom seria se a gente aproveitasse ao máximo – independente de conflitos, das questões – o tempo perto dessas pessoas. E é louco falarmos disso. É real, a gente não pode negligenciar, não podemos deixar algumas arestas por podar, questões para resolver e às vezes são coisas que levamos para a vida inteira. Eu, hoje, procuro dar uma atenção redobrada para isso aqui. Quando eu chego em casa a minha dedicação inteira é para minha casa, para meu filho, para minha esposa. E quando estou no meu trabalho, idem.

JT: Como foi a relação com os seus pais?
RE: Eu tive meus pais sempre muito presentes e eu sinto falta dessa aproximação, de poder tomar café da manhã junto, da conversa antes de dormir. Na minha vida, eu já vinha pensando nisso, e Bom Sucesso veio para amadurecer ainda mais essa questão dentro de mim. A única certeza que temos na vida é a de que vamos morrer um dia, independente de estar doente ou não. Mas, o que a gente faz com o tempo que a gente tem? Como a gente gasta esse tempo?

JT: E como você gasta o seu tempo?
RE: Eu procuro otimizar meu tempo dessa forma, fora isso procuro fazer boas escolhas para não perder tempo, me arrepender e falar: ‘Eu poderia estar fazendo tal coisa’. A gente aprende com tudo, mas é muito importante quando a gente aprende que o tempo tem um valor e a gente passa a não gastá-lo de qualquer jeito.

JT: As primeiras chamadas, antes mesmo da novela entrar no ar, você chamou a atenção da mulherada, por conta do pouco figurino do seu personagem. Como você lidou com os comentários?
RE: Na verdade eu fiquei um pouco surpreso. Eu fiz uma cena em que a toalha cai e isso chamou muita atenção. Eu acho que ele [Marcos] é um cara cheio de liberdade. Se ele está com a camisa aberta ou fechada, não é uma preocupação para ele. Ele é muito bem resolvido com essas questões, até mesmo por ele estar nesse cenário de mar, areia e sol, ele é um cara livre, se ele está vestido ou de sunga, para ele é igual.

JT: E você, se assustou com a repercussão?
RE: Eu vi que comentaram muito, talvez pelo fato de eu sempre fazer trabalhos em que estou muito vestido e a galera nunca viu o Romulo contemporâneo (risos). Mas essa é a ferramenta do meu trabalho, eu fiz “Entre Irmãs”, que é um filme belíssimo, que tem uma cena de nudez. Meu corpo é uma extensão do meu ofício, é uma ferramenta de trabalho e isso pra mim é uma coisa muito natural. Foi só uma cena que vai se repetir. Eu estou feliz e estou lidando bem com isso e tomara que o público também lide (risos).

JT: Sobre esse assédio do público, como a sua mulher lida com essas situações?
RE: Minha mulher é uma grande companheira de vida e uma grande admiradora do meu trabalho. A gente exercita muito isso em casa. A gente trabalha junto! Ela trabalha com branding, formação de marcas, criação de marketing pessoais. Ela lida de maneira muito tranquila com isso. Inclusive me ajuda nos momentos de criação dos personagens. Às vezes eu tiro dúvida, ela é bem participativa com o meu trabalho e muito tranquila como companheira também.

JT: Ela não tem ciúmes?
RE: Ciúme a gente tem, porque faz parte da relação, para nutrir uma relação saudável. Eu acho que nunca estive em uma relação doentia. Essa questão é muito clara dentro de casa, a gente tem isso muito definido. Eu tenho uma companheira de trabalho e cada um tem a sua vida e a gente está ali de uma maneira muito profissional. E também eu tenho um casamento que tem mais de 10 anos.

JT: O Marcos é um apaixonado pelos livros. E você, qual é a sua relação com os livros?
RE: Eu acho que a nossa sociedade é bem carente em relação à literatura. Temos muitos livros, tem livro para todo mundo, a demanda existe, mas o modo em que o livro chega para a gente na infância, é muito torta. Meu filho de três anos, quando eu pego para ler uma história para ele, na maioria das vezes, está só resumida e isso é difícil pois o contexto pode ter sido alterado. Na verdade, eu acho que a literatura está nesse lugar, na infância. É ali que você cria bons leitores. Hoje a gente tem uma série de dispositivos diferentes e isso é ótimo. Como isso vai impactar a gente daqui há 20 anos, a gente ainda não sabe, mas até lá, se tem o livro para ler, acesso a literatura e isso forma caráter, forma nossa cultura. Eu li muito pouco na minha infância e na minha juventude.

JT: Quando você começou a ler? E que tipo de literatura te prende?
RE: Comecei a ler porque achei que isso era necessário para minha profissão. Normalmente eu leio livros mais técnicos ou de entretenimento. Para mim é muito fácil me relacionar com a leitura, uma vez que estou fazendo uma novela e eu tenho 35/40 páginas para ler. Mas é uma leitura diferente, necessária. Nós temos que nos preocupar um pouco mais em incentivar a leitura e lembrar que existe um prazer em ler. Claro, às vezes esse prazer não acontece de primeira, mas se se você torna a leitura um hábito. É uma delícia sentar e gastar duas, três horas com um livro.

JT: Este é seu segundo protagonista em uma novela das sete. Como você está vendo isso tudo?
RE: Nada foi fácil! É consequência de trabalho, de fazer um trabalho bem feito. Eu me dedico muito e procuro fazer da melhor maneira possível. A gente está falando de uma obra aberta, que existe uma atenção da gente, um cuidado, uma vigília até a hora que acaba, até a hora que você fez a última cena.

JT: Você tem muitas semelhanças com o Antônio Fagundes. Como tem sido essa troca com ele?
RE: Eu estou amando! A gente troca pouco porque quando ele está lá ele grava muito ou está lendo, e isso é bom porque ele passa isso para a gente. Mas a gente já trocou em vários lugares. É sempre bom admirar e ver ele trabalhar. É um ator que eu respeito e tenho muita admiração e estou nutrindo carinho muito grande porque a gente se conheceu. Espero estar aprendendo até o fim desse trabalho.

JT: E como é atuar junto com a Grazi Massafera?
RE: Ela é uma grande companheira de trabalho. Tive o maior prazer em conhecer. Determinada, dedicada, a gente está muito empenhado em mostrar uma história linda para o público.

JT: Como vai ser esse triângulo amoroso entre Paloma, Ramon e Marcos?
RE: Não aposto minhas fichas nesse triângulo, acho que cada um vai ter o seu momento. Para falar melhor, eu adoro essa personagem [Paloma]. Ela representa muito a mulher de hoje: tem jornada tripla, não abaixa a cabeça, vai para a luta sozinha, e tudo bem ela estar sozinha. Mas não deixa de cobrar o que ela acha que é direito dela. Ela entende que vai morrer e fala: ‘Pera aí, tem um monte de coisa que eu não fiz ainda. Me deixa fazer’. A Grazi está fazendo lindamente essa personagem. As mulheres vão gostar de ver essa mulher e eu fico feliz de participar disso. Sem dúvida, a Paloma vai entender no momento certo da trama, o que é importante pra ela e o que ela quer. O que eu posso dizer é que o Marcos quer isso, ele respeita o amor, o pai, mas ele vai lutar por isso e pelo que faz bem para ele.

JT: O que você faria se descobrisse que tem seis meses de vida?
RE: Acho que empatia é fundamental e é uma das coisas que falta para a gente. Acho que, na correria do dia a dia, a gente tem deixado de olhar pra o outro e às vezes se reconhecer no outro. Eu aproveitaria bem o meu tempo com as pessoas que me cercam e que são alicerce para mim: meu filho, minha esposa, meus pais. São coisas pequenas que por muitas vezes a gente deixa de conversar ou de falar. A gente sente falta dos pais, eu sinto em algum lugar falta de acordar e tomar um café da manhã, coisa que eu fazia quando eu morava na casa dos meus pais. É óbvio, hoje é uma outra vida, hoje sou eu que tenho meu filho sentado tomando café comigo. Mas é bom também ser filho, não perder isso. É que não se pode ter tudo!