No ar como o sedutor Atílio de “Por Amor”, Antonio Fagundes será Alberto Prado Monteiro em “Bom Sucesso”
Por Claudia Dias
O sedutor Atílio de “Por Amor” continua conquistando o coração da mulherada na reprise da trama de Manoel Carlos no “Vale a Pena Ver de Novo”, nas tardes da Globo. As fãs de Antonio Fagundes, que viveu o galã em 1997, já podem começar a comemorar. Ele estará de volta em “Bom Sucesso”, como o não menos galante Alberto Prado Monteiro, o dono da editora que leva o nome da família, mas que está à beira da falência.
Alberto é um homem que enfrenta uma doença terminal, mas acaba sendo surpreendido ao receber um exame que aponta a sua cura. No entanto, os papéis foram trocados. O exame que mostra a doença do rapaz foi parar nas mãos de Paloma (Grazi Massafera), que passa a acreditar que tem apenas seis meses de vida.
Em entrevista, Fagundes falou sobre o retorno às novelas, a parceria com Grazi Massafera e o atual momento da cultura no Brasil. Confira a entrevista:
JT: Por Amor está reprisando, mais uma vez. A novela é um sucesso, mas seu personagem ainda mais. As pessoas estão te abordando nas ruas? O que fez essa novela ser um sucesso?
AF: Parece que é a quinta vez que passa. É uma novela que tem um ritmo diferenciado. Outro dia, eu vi uma cena minha com a Regina Duarte que tinha 15 minutos, era quase um bloco inteiro. Era eu e ela na cama conversando. Era uma cena deliciosa porque você permite ao público ir devagar junto com o personagem. Acho que isso era um ganho que as novelas tinham antigamente e que perdemos um pouquinho. Seria bom se conseguíssemos recuperar. Não é à toa que as pessoas se reconhecem na novela, curtem e que está dando o ibope que dá num horário completamente louco, à tarde. Isso vai acontecer com todas as novelas daquela época, que têm esse tipo de ritmo. Aconteceu com ‘A Viagem’, ‘Renascer’, ‘O Rei do Gado’. Eu estou falando as novelas que fiz, mas com as outras novelas também daquela época. São novelas que fazem o público pensar e não se distrair totalmente.
JT: O Atílio é sucesso entre a mulherada, né?
AF: O Atílio é perfeito com mulheres. Ele é quase chato, faz salada. Elas querem um Atílio na vida delas.
JT: E esse novo personagem em “Bom Sucesso”, como será?
AF: Alberto Prado Monteiro, o dono de uma grande editora. Ele começou vendendo enciclopédias de porta em porta, comprou uma editora e foi crescendo. Naturalmente, a cultura começa a cair e ele, teimosamente, não quer mudar a sua linha editorial e a editoria começa a passar por problemas. A novela começa quando ele está passando por problemas por causa dessa linha editoria mais culta, digamos assim. Junto com isso, vem um problema em que ele tem uma doença terminal. Logo no comecinho, ele recebe um exame dizendo que está bom e curado. Isso dá um alívio muito grande para ele, até descobrir que o exame foi trocado.
JT: Essa troca de exames vai desencadear problemas ao longo da trama, né?
AF: Na verdade, o grande problema é que nessa troca de exames o personagem da Grazi [Massafera] recebe o exame dele, que tem seis meses de vida. Ela acha que tem seis meses de vida e começa a chutar o pau da barraca. Mas logo que eles descobrem essa troca, fica uma curiosidade da parte dos dois: um querendo saber quem vai viver, e o outro querendo saber quem vai morrer. Eu acho que esse é o grande interesse da novela, porque aborda esse aspecto da vida e da morte de uma forma diferenciada, com um certo frescor. É uma coisa que a gente quase nunca fala. É gozado isso porque não falamos de duas coisas: da velhice e da morte. Se a velhice chegar é porque nós não morremos. Se não chegar é porque morremos antes. Essas duas coisas são bastante presentes na vida da gente a partir dos 20 anos de idade. A partir dos 20 anos, as nossas células começam a envelhecer e a gente não se prepara para isso. Tem até uma frase do Goethe [escritor alemão] que diz: a velhice nos pega de surpresa. É uma loucura porque estamos envelhecendo a cada minuto da vida. Então é bom que a gente se prepare e organize.”
JT: Como você lida com o envelhecimento?
AF: Eu sempre lidei muito bem. Sempre brinquei que eu tinha uma nostalgia da velhice. Eu sempre queira ser mais velho porque achava que a velhice seria uma coisa interessante. Agora que estou mais velho, estou confirmando isso. É muito bom! Claro que não pode subir mais a escada de três em três [degraus], mas sobe de dois em dois. Depois sobe de um em um, depois não sobe escadas [risos]. De qualquer forma, é uma coisa que eu lido muito bem.
JT: Como está sendo a parceria com a Grazi Massafera?
AF: Fizemos uma novela, mas não era junto porque eram núcleos separados. Agora, essa é a segunda vez [no mesmo projeto], e graças a Deus é junto porque ela é uma gracinha de pessoa e uma atriz ótima. O personagem dela é muito bom e a relação dos dois vai ser muito interessante. Eu gosto sempre de falar de um livro da Ana Claudia [Quintana Arantes], que praticamente está nos estimulando nessa novela, chamado ‘A Morte É Um Dia Que Vale A Pena Viver’. Ele fala sobre cuidados paliativos e que é uma forma diferenciada de encararmos a morte. A morte não como doença, mas como um limite para a sua vida. Então, ao invés de tratar a doença até a hora da morte, vamos tratar da pessoa enquanto ela está viva. Isso é uma coisa que a novela vai passar muito bem. Essa coisa de que é interessante você estar bem quando morrer. Eu quero estar bem de saúde quando morrer.”
JT: Como você cuida da sua saúde e do seu bem-estar?
AF: Confesso que sempre fui muito preguiçoso, nunca fiz exercícios. Mas agora comecei a fazer um pouquinho porque começou a dor nas costas. Tem uma frase do Oscar Wilde que eu adoro, ele dizia assim: tudo com moderação, inclusive a moderação. Essa frase define o que eu quero para a minha vida. Eu quero fazer as coisas que tenho que fazer, mas moderadamente, inclusive dentro da própria moderação. Eu quero fazer exercícios, mas não quero ser um atleta. Eu quero fazer um cuidado alimentar, mas não quero me restringir e deixar de comer algumas coisas gostosas. Estou me cuidando assim.
JT: Como está a expectativa para mais um trabalho na teledramaturgia? Os canais Globo e Viva já estão reprisando Por Amor e Porto dos Milagres.
AF: Estou até com medo do público dizer que não me aguenta mais. Mas isso é uma forma interessante de a gente ver a evolução de algumas coisas e a involução de outras. Ganhamos umas coisas com as nossas telenovelas, mas, ao mesmo tempo, parece que perdemos outras. Algumas novelas muito antigas fazem sucesso por causa de um tipo de ritmo que as pessoas dizem que hoje em dia ninguém mais está a fim de suportar. Pelo contrário, as pessoas hoje em dia, a meu ver, estão precisando de mais tempo, silêncio, calma. Tem até um movimento chamado ‘Slow’ que é para você fazer tudo com mais calma: comer com mais calma; ver um filme mais lento; para você deixar o seu conhecimento sedimentar na cabeça. E não estamos deixando, é tudo muito rápido. Ganhamos essa velocidade, que é uma coisa interessante. Mas é interessante, para mim, como uma moda passageira. Eu gosto das coisas que fazem a gente pensar.
JT: O público comemorou o teaser de Bom Sucesso, onde você narra a história. Como você lida com esse carinho do público vibrando com o seu retorna à TV?
AF: É engraçado porque parece que quando você não faz novela, você não está no ar. E eu fiz um monte de coisas. Fiz Dois Irmãos, Se Eu Fechar Os Olhos Agora, mas isso não conta. Eles [os telespectadores] querem 200 capítulos [risos].”
JT: Você está em cartaz recentemente com a comédia Baixa Terapia. O teatro tem esse poder de fazer as pessoas desacelerarem e absorverem mais as informações?
AF: O teatro ainda é uma coisa revolucionária. Hoje em dia é revolucionário reunir 700 pessoas em uma plateia, durante uma hora e meia no escuro, sem mexer na maquininha infernal e prestando atenção em seis atores desenvolvendo uma ideia. Isso é uma revolução! É uma peça que mexe com a cabeça das pessoas, uma comédia hilariante, as pessoas morrem de rir. Ou seja, elas estão em contato com o que está acontecendo ali a cada segundo e, ao mesmo tempo, é mais calmo do que qualquer coisa que você possa ver no Iphone.
JT: Como está sendo fazer teatro atualmente, onde a cultura não está tendo o seu devido reconhecimento e apoio?
AF: É terrível! Estamos vivendo um momento de desmanche. Estamos vendo os museus sendo ameaçados com cortes de verbas, as pinacotecas. Quando falamos de cultura, sempre pensamos nas coisas mais próximas: teatro, cinema. Mas não é só isso, tem: circo, dança, música, pinacotecas, patrimônios históricos. Estamos vendo os museus pegando fogo e não vendo nada sendo feito para que eles sejam reconstruídos. Nós vimos, recentemente, uma igreja em Paris pegar fogo. Em dois minutos, eles [as autoridades] afirmaram que em cinco anos aquilo vai estar pronto e vai ser melhor do que a Notre-Dame, se é que isso é possível. Eles vão conseguir porque houve um conjunto de medidas tomadas pelo governo e a iniciativa privada para que aquele patrimônio não se acabasse. Até porque, eles sabem que uma vez acabado nunca mais vai ser reconstruído, vai ser difícil reconstruir se demorar…
JT: Qual o maior ensinamento que você tirou ao longo de sua carreira artística?
AF: A gente vai tirando ainda, para mim é um processo. Às vezes, as pessoas perguntam qual trabalho eu achei mais importante. É difícil selecionar porque para mim é um arco que estamos vivendo, e eu estou ainda no arco. Tem muitas experiências tiradas, uma delas é a importância da cultura em um país, em uma civilização. Sem a cultura, você não tem cidadania, ética, discussão que forma uma nação. Sem a cultura você não entende o outro, você não vive os seus problemas com consciência. Educação e cultura são importantíssimas. Estamos vivendo momentos tristes nesse sentido, onde isso tudo tem sido deixado de lado. É preciso que prestemos atenção que, algumas coisas que venhamos deixar de lado, serão irrecuperáveis. Tem coisas que você não recupera e tem coisas que, mesmo você querendo muito, vai levar décadas para recuperar. É um momento delicado que estamos vivendo no Brasil e no mundo, inclusive com todas essas tecnologias que estão vindo. São maravilhosas, agilizam as nossas vidas, nos fazem trabalhar de uma forma mais eficiente, mas podem trazer consequências graves se não prestarmos atenção nas coisas ruins que a tecnologia tem.”
JT: Qual a sua relação com as plataformas digitais? Você utiliza as redes sociais?
AF: Não tenho nada! Não tenho nem computador. Eu tenho um Instagram que não é meu. É uma fã minha de Portugal, que gosta muito de mim e fez. Inclusive, ela coloca ‘Antonio Fagundes não tem nenhuma rede social’. É que ninguém lê! Todo mundo acha que é meu, mas está lá escrito. Parece que tem um Facebook também, que é de outra portuguesa.